Você já teve uma obra que acompanhou durante anos e sempre gostou mais do que como um fã, um verdadeiro admirador que aprende e vivencia junto a ela? Pierrot Gluton e eu fizemos esta bela review falando sobre nossa história e também uma análise do mangá e do anime das deusas de Ah! Megami-sama. Estão prontos? Espero que estejam.
Ah! Megami-sama (Oh My Goddess!) – Review da obra: Descobrindo e Redescobrindo as Deusas
A vida é um conjunto de experiências e vivências que se complementam e transformam ou tornam nossa existência naquilo que ela é, o céu ou o inferno, e existem algumas insignificâncias perante os demais olhos que para outros são referências que influenciam como verdadeiros parâmetros, ideais mesmo.
E dentre essas situações especiais o romance do mortal Keichii Morisato e a divindade Belldandy se enquadra perfeitamente.
Esse é o verdadeiro pano de fundo de Ah! Megami-Sama/Oh! My Goddess.
Sou de um tempo em que animes eram novidades que apareciam nas tevês (todas abertas, não haviam canais fechados), de um tempo antes.da.minha alfabetização, onde assistia Speed Racer, Sawamu, As aventuras de Cacá… depois assistia mais Rei Arthur e os Cavaleiros dá távola Redonda… Andei afastado.
Não me animei com Cavaleiros do Zodíaco (quem assistiu moero Arthur não curte). Gostei do Dragon Ball com Goku de rabinho… e me afastei… retomei depois de anos, através de canal fechado… Naruto… comprei os DVDs… 12… E devagar recomecei… Sakura card captors… Samurai X… e aí veio a internet… e fui recomeçando… achei um site.
Um que foi muito famoso… e resolvi fazer uma escolha para começar a assistir firme e forte… não queria algo famoso ou modinha… queria redescobrir… fui por ordem alfabética e por simpatia a primeira vista…
A minha escolha… Ah Megami-sama… Oh! my Goddess…
À primeira vista, a primeira impressão pode nos influir em muito na permanência ou não de continuar assistindo. Mas já no primeiro episódio aquela história me atraiu… não era um anime para crianças. Trazia os dilemas de um jovem recém admitido numa universidade… e longe de um padrão nerd ou intelectual… encontramos um azarado supremo… um calouro explorado por seus senpais… que fica de “castigo” enquanto seus colegas de república saem pra gandaia.
Ele ficou para avisar a irmã de um dos senpais que ele estava ocupado com algo. Avisou… e na sequência o telefone toca…
Aí realmente começa a história… uma deusa fala com ele pelo telefone… ele acha engraçado. Mas ela aparece para falar com ele pessoalmente… ela iria atender a um único desejo… qualquer coisa… ser o homem mais rico… mais poderoso… ou destruir o mundo… qualquer coisa… ele pede: “Eu queria uma deusa como você por toda a minha vida…”. E a magia acontece.
Uma história de para Sempre
Nesses anos todos acompanhando essa história vimos uma relação de amor profundo… muitas risadas… e algo que me tocou profundamente… uma poesia intrínseca a toda história… o amor pelo resto da vida… Quem pode estar com a gente pelo resto dá vida?
Keichi escolheu uma deusa (Beldandy)… E essa história se mostrou realmente mágica e divina… mantendo nossas atenções e pensamentos nessa relação literalmente mágica… vimos deuses, deusas, demônios… famílias, desejos e sonhos se transformando em realidade… o amor acontecendo. Mas o anime termina sem encerrar as histórias desse casal… o que nos resta?

Mangás… achamos pela internet… devoramos… quando no grupo do Orkut (pouco tempo né) acho um grupo de admiradores que acompanhavam o mangá… comentávamos quando saía os capítulos… ali conheci o ValhallaKnight, mas… eis que pararam de traduzir o mangá… a história continuava… os fansubs em inglês continuavam… procurei contato com fansubs pra ver se alguém continuava… nada… nenhuma resposta.
Dane-se… fui no Orkut e perguntei se alguém topava fazer a tradução comigo… o ValhallaKnight topou… quem faz as primeiras traduções do nada, sem um tutorial sofre… mas se diverte… e cada capítulo era delicioso de trabalhar… sem domínio pleno de inglês, pegamos as edições do inglês…
O fim?
Traduzimos na forma mais grosseira (sim, Google tradutor) e depois fazíamos a edição final… limpávamos os balões e escrevíamos. Claro que estávamos as traduções… e descobrimos que traduzir é diferente de transcrever… por vezes alteramos traduções que não diziam o que estava ali… buscávamos em outros idiomas… comparávamos… às vezes destruíamos e reconstruimos…
Mas… veio a notícia do fim do mangá… e para nossa tristeza… porque ainda queríamos mais dá história… ela acabou… foi uma das traduções que nós temos mais orgulho de ter feito… foi linda, poética e amorosa… como deve ser o amor por uma deusa.
Às análises
A obra foi iniciada em agosto de 1988 e finalizada em abril de 2014 por Kousuke Fujishima, ou seja 26 anos, que devem ter sugado boa parte da alma do autor. Existem duas coisas a se salientar na evolução, o traço e a forma de abordar em seu argumento:
O traço e a Arte
Capa da primeira edição

Próximo do Capitulo 150
Pode-se observar como foi evoluindo gradualmente o traço, até porque o mangá começou a ser publicado em 88, e seguia-se a estética da época, claro que o traço melhorou muito aos nossos olhos.
Quanto ao argumento nos roteiros, em alguns arcos existem partes não tão queridas assim, mas vamos combinar, difícil manter o pique sempre, mas na maioria das vezes o enredo sempre foi bom, mas a elaboração deles foram se melhorando. No começo era algo meio rústico até, mas com o passar do tempo até mesmo os encantamentos surgiram mais bem elaborados.
O autor desenvolveu bem a habilidade de deter o leitor querendo levar ao próximo, nem sempre porque a narrativa é linear, mas porque existem semeaduras esparsas, pontas… mesmo no encerramento ficou um ar de que quem sabe um dia…
Vou até um pouco mais longe meu bom amigo PierrotGluton
Fujishima no começo da obra tinha uma arte com dois tons distintos. O primeiro deles era focado mais para as obras de “comédia romântica” da época, tanto que se você olhar bem, as deusas têm lembranças dos traços de Video Girl Ai.
Mas o outro ponto era A MODA. Todas as deusas e demais personagens tinham traços que lembram MUITO como estilistas desenham em seus croquis, assim como também os próprios trajes do começo do mangá, sempre são extremamente antenados com a moda dos anos 80-90. Se você olhar bem, até mesmo os formatos dos rostos — e não apenas as roupas e os traços longilíneos de seus corpos– lembram manequins.

Depois disto, os traços foram mudando chegando ao que eu chamo de “infantil estilizado” que foi o do meio dos anos 90 (que é a arte dos ovas aonde muita gente conheceu as deusas). Mas aí mesmo no meio dos anos 90, começou a se formar o ponto mais marcante da arte do Fujishima: Os cabelos e os olhos.
Até que no começo de 2000, essa arte “infantil estilizada” que já era a base para o MOE de todas as obras de romance que tinham como referencia AMS, ganhou o tom que temos hoje — o primor. Algumas capas do mangá não são simples “capas de mangá”, são obras de arte. Toda a arte é perfeita e bem cuidada em seus mínimos detalhes, e reza a lenda que durante o filme, o próprio Fujishima cuidou de desenhar os cabelos das deusas.

A história das deusas se confunde
A história da obra de Fujishima se confunde com muitas outras histórias. Com a história dele mesmo como um grande e sensível autor, um cara capaz de falar com à audiência seinen sobre uma história de amor de aparência piegas com perdão da palavra, “bobona”. É bem aparente a inspiração tanto em VGA como naqueles filmes dos anos 80 das “mulheres perfeitas” que na verdade, se tornam maravilhosas justamente pelas suas imperfeições dignamente humanas.
É lindo a primeira vez, tanto no anime como no mangá, quando a Belldandy, o suprassumo da perfeição (canta, dança, guerreira, fala várias línguas, é paciente, carinhosa, entende de física quântica…) sente Ciúme. Ou quando no mangá, ela zomba do K1 a primeira vez (Bell zomba dele todo o tempo no mangá para quem não sabe… zomba mesmo, não é pureza e inocência como aparenta no anime).
É interessante porque a Belldandy nada mais é do que a “garota misteriosa” que tanto os shonen de romance (e os shoujos têm também a sua contraparte) gostam. Ela acabou de chegar na cidade parar mudar “up side down” o mundo do protagonista. Só que essa namorada, é… uma deusa! Basicamente temos dois clichês ai… um plot de aparência tudo o que você conseguir pensar. E no fim ela acaba se tratando de uma obra magnânima.
Yamato…?
E é interessante para mim que antes sempre gostei mais da Urd, da Peorth e hoje olhar especificamente para a Bell. Ela é um símbolo (ao menos deveria ser) das “Yamato Nadeshiko”. Não tem muita comparação aqui no ocidente. É difícil falar de outra cultura a partir de uma visão ocidental e não vou me adentrar nisso.
As Yamato nos animes porem têm a personalidade da Belldandy. Cuida, ama, mas tem uma coisa que não se encontra numa Margie Simpsons da vida, ou em qualquer outro arquétipo de submissa como a Padmé de Star Wars. Ela… espera. Do seu “escolhido”. Belldandy espera que ele seja cavalheiro, forte, ético, corajoso. E o escolhido não tem de suplantar cada uma dessas exigências na esperança de se tornar um “chosen one”… ele tem de Ser para Merecer o coração dela.
Ah! Megami-sama é o Hokuto no Ken das obras de Romance

No fundo AMS que se confunde com a cultura pop ocidental e japonesa, que traz a figura da forte mulher japonesa, que espera um forte samurai para ser seu parceiro (e este é o Keiichi), que se confunde com a história da moezição dos mangás e animes, que ele começou.
Foi o Fujishima com seu trabalho meticuloso de arte, cuidado dos olhos, cabelo, roupas como se fossem croquis de moda, e colocando amor ali. AMS fazendo um paralelo muito acertado, é para indústria japonesa o Hokuto no Ken das histórias de amor.


Em todos os sentidos. Quando vemos a arte de autoras como a Kozue Amano, claramente e totalmente inspiradas no Fujishima, ou obras menores como de Amagi Brilliant Park até gigantescas como Fate/Zero.
A dubladora da Irisviel de Fate/ Zero por exemplo, bebe muito da dublagem feita pela Kikuko Inoue para Belldandy, além tomar inspirações de personagens como a Maetel, para que ela mesma pudesse criar a sua própria visão de Yamato.É impossível na verdade, desassociar Ah! Megami-sama do resto. De todo o resto.
Sobre minha vida…
PierrotGluton já contou como nos conhecemos e como começamos a traduzir AMS. Foi uma tradução de suor, amor e lágrimas. Eu adorava na realidade. É triste de se pensar que um mangá que vendeu tanto no ocidente (USA) não ter uma tradução oficial aqui no Brasil (até o fim). Hoje por motivos muitos estou afastado dos “animês” mas sigo acompanhando de longe. Como amante de várias outras obras… É tão estranho.
Ah! Megami-sama não é um drama, apesar de ter momentos de drama. Não é uma obra de ação, mesmo tendo cenas de ação da Belldandy lutando contra demônios ou outras entidades para salvar seu namorado, como a Valkyria que ela é — ou do Keiichi fazendo o mesmo mas não de um modo tão épico.
AMS no fundo, só fala de seres humanos no seu dia-a-dia e nas decisões fáceis e difíceis que tomamos. Na relação engraçada da Belldandy de amar “objetos velhos”, como toca-fitas e tvs de tubo sempre dizendo, “só precisava de carinho para funcionar”. Ou do Keiichi falando “está delicioso” para o almoço que sua esposa fez para ele.
Até isso é digno de nota: o encontro da Bell e do K1 é um “casamento acertado japonês” sem interferência de pais ou da família. Apenas duas pessoas que se conheceram e por motivos estranhos, moraram juntas até surgir o amor. E decidiram morar juntas para sempre.
Esta obra marca. Deixe-a marcar sua vida também.
Esse é o verdadeiro pano de fundo de Ah! Megami-Sama/ Oh! My Goddess.