E cá vamos nós para a indicação deste clássico, deste épico da literatura brasileira chamado Grande Sertão: Veredas, do genial João Guimarães Rosa. Espero que gostem do texto e que leiam essa obra magistral e filosófica!
Grande Sertão: Veredas: Um Épico no Sertão Brasileiro – “O Sertão é do tamanho do mundo” – Indicação
Vou mentir para vocês não meus queridos amigos, é preciso uma certa dose de coragem para falar dessa obra. Isso porque estou indicando uma das melhores que já pude ler. Mas devo advertir, que vou somente dar uma pincelada e tratar um pouco do seu sentido — como sempre, Indicar uma das melhores obras de nossa literatura.
A primeira coisa que devo contar foi que li esse romance há mais de 5 anos, então caso a memória falhe é compreensível. A segunda é que este foi um dos livros que sempre quis ler, e graças a Deus o recebi de presente de uma grande amiga minha. Agora sim…
Primeiro a Sinopse “by my memory”
De modo geral, Grande Sertão: Veredas, é uma história literalmente contada pelo antigo jagunço Riobaldo a uma certa pessoa que chega de repente na sua fazenda. Ele começa a narrar um pouco da sua vida como jagunço, seus amores, dissabores, suas lutas e principalmente as suas percepções sobre o sertão, de que “O Sertão é do tamanho do mundo“.
Sobre as andanças dele, temos alguns personagens marcantes como o “Compadre meu Quelemém”, Joca Ramiro, Hérmogenes e principalmente Diadorim. Conta com muitas “cenas de ação”, passagens puramente de sabedoria, reflexões sobre o mundo, a existência: sobre a vivência de fato.
Sabemos então, que Grande Sertão é Riobaldo contando para nós, como foi a sua vida no sertão, como ele a vivenciou e o descobriu. Narrando a partir do fluxo de suas memórias. Atente sempre que ele fala para “quem chega na sua fazenda”: ele conta para o amigo, para aquele que se torna seu amigo com o passar das paginas: Riobaldo conversa conosco.
Vamos tratar agora de três pontos que gostaria de destacar em Grande Sertão: Veredas que considero mais importantes.
A Língua
Grande Sertão começa com “NONADA” (que quer dizer “Não é nada não”). A linguagem do romance é extremamente difícil, como se fosse de um português arcaico: mais ou menos o mesmo falado no sertão de Minas-Bahia-Góias, que é aonde a história é narrada. Destaco a linguagem porque tenho certeza que não só para mim, mas como para qualquer pessoa ela é como se fosse o primeiro susto que temos ao ler o livro.
Com o tempo, e vou dizer, com persistência, vamos entendendo aos poucos o que Riobaldo nos conta, e a “língua” que ele fala. Língua que não é nada errada, pelo contrário.
Na verdade é cíclica, poética, musical. Com o passar da leitura a sua conversa vai ganhando forma na mente do leitor: ganhando melodia. Isso porque o que Riobaldo, o que Guimarães Rosa nos fala não é um livro comum, mas sim um livro…
Épico

Grande Sertão: Veredas é um ÉPICO. No forte sentido do termo. Cada palavra, cada situação, cada vivencia que Riobaldo nos conta — desde ele falando do céu estrelado do sertão, da existência do diabo (“O demônio na rua, no meio do redemunho.”), da dificuldade da vida, de como é difícil e perigosa vivê-la e do amor descomedido e mesmo assim escondido.
Do passar dos lugares, das explicações e sentidos profundos que pequenas coisas tomam, como por exemplo, o que são “veredas”? Como cada pessoa vivencia o mundo e a sua realidade, aonde o “Sertão: é dentro da gente”. Como sentimos cada qual, o que passamos, o que vemos, o que realizamos enquanto tal — no descobrir do mundo e no desvelar de nós mesmos.
E do Mítico
Daquilo que não se sabe, do mistério, dos personagens que simplesmente não falam, mas aparecem para aconselhar (o Compadre Quelémem que em nenhum ponto do romance “fala”, mas é sempre citado como um sábio da doutrina de Cardeque, entendido dos espíritos). E das pessoas que marcam nossas vidas, como foi decisivo para Riobaldo admirar Joca Ramiro na condução dos Jagunços.
Lembrando, por exemplo, quando falei do uso da razão de Ulisses e o comparei com o Batman, e também da deusa Athenas que o ajudava por ser justamente racional… Mas aqui, são as reflexões de Guimarães que eu arrisco, escaparem do mítico: “Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver”.
Na verdade o mitológico, o inexpugnável, ou o simplesmente o inexprimível dentro do universal, toma total completude quando é sinceramente evidenciado e vivido por aquele que o compreende — quando se entende que a vida é um continuar difícil, de que viver é perigoso e de que amar…
…Amar às vezes é sem explicação

Eu lendo as reviews sobre Grande Sertão: Veredas, até para lembrar dos nomes de alguns personagens, vi que algumas tentaram “racionalizar” a obra, dividindo ela nos períodos de vida do Riobaldo e esquecendo de detalhes importantíssimos. Enquanto outras, que lembraram dos detalhes críticos mas falharam ao meu ver, por não explicarem o quão eles foram importantes.
Não vou aqui dar detalhes, mas por exemplo, Diadorim é um dos personagens mais densos, profundos e marcantes da literatura brasileira. Eu realmente queria dar spoilers… Mas digamos que ele é tão importante quanto uma Capitu. Diadorim é vivo, representativo do belo mas principalmente a sua motivação é uma vingança.
Enquanto isso, Riobaldo simplesmente trabalha como jagunço e depois de muitas lutas por ter um tiro certeiro como o de um carcará, ascende e se torna líder do bando. Daí suas reflexões mais profundas sobre a encarnação do mau (“o diabo, na rua, no meio do redemunho… “). Contudo por saber que o homem é em si este mal na aparência: quando o momento acontece e o mal se desfecha.
Mas Diadorim está lá, marcante na vida de Riobaldo mesmo que no fim o épico tenha um final digno de obras românticas — enleado a um mistério profundo que se descobre justamente, próximo do final. O clímax é a resolução do mistério, o realizar da vingança, junto ao constante descobrir de si e do (no) mundo de Riobaldo, que perpassa toda a obra.
Conclusão
Eu discordo dos revisores. Primeiro, Guimarães Rosa nos brinda com uma obra não apenas “não linear”. Riobaldo vai se lembrando dos fatos de forma associativa, um caso após o outro, seguindo o fluxo do seu sentimento e o redescobrir ao rememorar. Ou seja, os fatos surgem diante da importância deles, seguidos pelo entendimento e compreensão do Riobaldo.
Segundo, ele nos conta o que aconteceu na sua vida já velho. Riobaldo provavelmente não tinha a sabedoria para entender tudo o que aconteceu na hora que aconteceu — mas as suas reflexões, as de Guimarães Rosa, tomam também o corpo, profundidade e entendimento porque ele já é um sábio, um homem experiente.
É porque ele é experiente no momento que nos conta, que vemos o descobrir da juventude, junto ao redescobrir de agora, mais velho: um entendimento filosófico e de vida presente em Grande Sertão: Veredas — Guimarães Rosa era um gênio.
Por fim, digo que é uma obra assim, que apesar de ser difícil no começo pela linguagem, vale MUITO a pena você ler. É um livro que fala de vivencia, de se descobrir na vida — uma obra de característica ontológica, filosófica mesmo. Tenho certeza que você amigo/a leitor/a vai se emocionar e aprender muito com ela — se redescobrir enquanto lê.
Um abraço e boa leitura!
Fontes: