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Memorial do Convento de José Saramago: Um Padre Voador, um Soldado Maneta e uma Médium – O que é Literatura Fantástica? – Indicação

Bem-vindos meus amigos a mais uma indicação de romance e boa literatura do Afontegeek. Hoje falaremos um pouco da obra Memorial do Convento, do grande José Saramago: porque literatura fantástica é sim um assombro do maravilhoso!

Memorial do Convento de José Saramago: Um Padre Voador, um Soldado Maneta e uma Médium – O que é Literatura Fantástica? – Indicação

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E cá estamos em uma das nossas já clássicas reviews/ indicações de literatura. Isso depois de alguns meses das últimas sobre Dom Casmurro (de Machado de Assim) e Senhora/ Lucíola de José de Alencar. Eu fiz uma série de quatro indicações e resolvi começar com o grande José Saramago.

A primeira vez que tive contato com obras dele foi justamente com o Memorial do Convento, e recentemente li até a metade aquela considerada o grande “grimoire” do português que já ganhou até um nobel de literatura: Evangelho segundo Jesus Cristo — não se enganem, Saramago era ateu, então não esperem nada religioso de nenhuma das duas.

Mas cá estamos. Como eu li o romance há exatos 5 (cinco) anos, isso mesmo, cinco anos, vou fazer uma breve sinopse “by my memory” e seguir aos finalmentes, porque este texto se trata de uma indicação — lembrem-se meus amigos.

Sinopse by my Memory

Convento: Palácio Nacional de Mafra (1853)
Convento: Palácio Nacional de Mafra (1853)

A estória é dividida em 3 grandes grandes núcleos. O rei e a rainha de Portugal, que no momento estão construindo um convento novinho em folha (mas Saramago mostra mesmo é a relação humana deles dois, como era viver naquela época em que se tinham percevejos na cama e que ninguém tomava banho rs);

Mostra a história da Medium Blimunda, que se bem lembro, estava escapando da inquisição (ela quase foi deportada… a inquisição na maioria das vezes deportava, lembre-se disso). Ela tem a habilidade de ver a vontade das pessoas e acaba meio que “sendo usada” pelo padre para roubá-las… Além de seu amado soldado maneta Baltasar (maneta porque ele tinha perdido uma mão, oras);

E também deste padre completamente viajado na “maionese”, o  Bartolomeu Lourenço de Gusmão (nome de um grande cientista brasileiro!) — que sonhava em voar usando experimentos alquimistas, a partir do uso da vontade das pessoas. Meio que esta é uma sinopse geral do que você vai encontrar dentro do romance.

Umas péssimas reviews por ai…

Ainda bem que ele não leu elas eu acho rs
Ainda bem que ele não leu elas eu acho rs

Para fazer esta indicação eu acabei lendo a review dela da Wikipedia sobre o romance de Saramago — porque como bem disse, são 5 anos passados desde que eu li essa obra-prima. E sinceramente? A review da Wikipedia É UMA BOSTA (o link deixo aí embaixo para quem quiser ler).

Não sei quem escreveu, não sei qual foi o método utilizado, mas houve uma ênfase muito grande nas divisões sociais e uma perda quase completa dos pontos que considero os mais importante para entender ao menos esta obra de Saramago — e na verdade, o que eu penso ser o estilo dele de escrita.

O que é Literatura Fantástica?

Lindas Nagisa e Ushio em Clannad After Story...olha eu veria esse filme
Me Julguem: Para mim animes são um exemplo sem igual de “Literatura Fantástica”!

Saramago é um autor da Literatura Fantástica. Mas AdminTB, o que é isso? Pois é usar da fantasia, de eventos extraordinários para demonstrar as possíveis ações humanas que as envolvem. Basicamente é como se fazer um mito: uma imitação de um épico, ou algum acontecimento extraordinário, e trabalhá-lo com as possíveis atitudes humanas diante do impossível, do milagroso.

Apesar de ateu (melhor dizendo, por ser ateu), Saramago tratava e parecia gostar muito de abordar o milagroso, o impossível, e interpretar o ser humano diante do imprevisível. Claro que quando acontecimentos inesperados se dão, a reação (e a busca da reação) é uma só: o riso. Saramago porque trabalha o impossível causa no leitor duas passagens filosóficas: A Ironia e o Espanto.

A Ironia e o Espanto

sociedade edward-01O Espanto porque não é sempre que se vê um milagre — e é justamente o espanto que é o primeiro despertar do pensamento. A Ironia porque sim, pensar também perpasse pelo irônico, pelo riso, pelo quase sarcástico. Na verdade, a Literatura Fantástica é além de um mito, e sim um proporcionador de espanto e ironia: ela é um “e se”, um grande e poderoso “Experimento Mental”. E se aparecer um ser com Mãos de Tesoura?

Mas por que “Experimento Mental”? Eu abordei esse tema, o “e se” no texto sobre o filme de Edward mãos de Tesoura. Porque apesar de Saramago colocar um milagre, um evento fantástico, ele não cessa de trabalhar o realismo. Sim… Saramago é um realista, um irônico caustico — daí seu estilo me lembrar tanto o de Machado de Assis.

Realismo na literatura fantástica

pagina-da-hq-dom-casmurro-baseada-na-obra-de-machado-de-assis-1338330592339_615x300Ou seja, pensemos se algo de incrível acontecer, no meio de uma realidade dura, sem romantismos, sem irrealidades. É o fantástico, o imprevisível — e portanto irônico e hilário — no meio da realidade mais simples, mais natural. Aí a leitura se torna leve, se torna cômica… porque é inesperada!

Conclusão

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Então meus amigos, basicamente é isso que vocês vão encontrar em Memorial do Convento: uma ironia cômica, hilária mesmo — eu ri muito no momento central da estória — surgida ou dentro da realidade mais crua, ou vinda do impossível que se torna realidade — e das reações dos personagens diante do milagroso.

Obviamente que não apenas a ironia, mas justamente o que torna suas obras tão incríveis, é o espanto que brota de dentro dos “experimentos mentais” em meio ao realismo duro de suas obras — realismo esse que de tão cru,  pode até nos levar as lágrimas com as tristezas da vida.

Me despeço pessoal com essa ótima indicação de romance… e vou te dizer: reviews que não abordem estes temas nesta obra (ou em o Evangelho segundo Jesus Cristo) podem jogar fora, leiam essas reviews não. Bom… eu não leria!

Abraços!

Fonte: Wikipédia: [Link]

Dom Casmurro: Um Clássico da Língua Portuguesa – Indicação

Agora vamos passar a uma pequena indicação do romance Dom Casmurro, obra-prima do mestre Machado de Assis. Sou um eterno fã do Bruxo do Cosme Velho, e foi um prazer falar sobre esse maravilhoso livro. Boa leitura!

machado de assis

Dom Casmurro: Um Clássico da Língua Portuguesa – Indicação

Tem algum tempo que não faço um post sobre livros aqui no blog. Desta vez, assim como fiz em Eurico, o Presbítero, vou fazer uma breve indicação sobre Dom Casmurro.

É realmente deveras emocionante poder escrever algumas linhas sobre qualquer obra de Machado de Assis. Li diversos livros dele — coloca ai na conta, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memórias Póstuma de Brás Cubas, Quincas Borba, etc — e me considero um grande fã desse gênio. Na verdade, na linha de ‘romances’, tenho Machado de Assis como o maior escritor que já li, e tomo ele como referência para qualquer outro autor Ueshiba Riichi?

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Um dos autores que apesar de só ter lido um livro dele, me recorda muito o estilo ‘irônico’ e ‘seco’ de ser é José Saramago. Quando li “Memorial do Convento” (para ler a indicação do livro de Saramago, só seguir o link) só me vinham comparações com o ‘Bruxo do Cosme Velho’.

O estilo ‘realista‘, por mais que Saramago jogue muito com ‘literatura fantástica‘ me colocava sempre em xeque no dizer, ‘como parece Machado de Assis, mas Machado é melhor’. Me falta ler por completo uma das grandes obras de Saramago: “Evangelho Segundo Jesus Cristo“. Eu até tentei…

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Romance x Novela

Mas antes de falar um pouco sobre o ‘romance’ em questão, vale à pena dar umas esticadas para falar de alguns termos. Primeiro, porque dizemos ‘romance‘? O termo romance não se refere a obras românticas somente, mas sim, a obras que se diferenciam de ‘novelas‘. Geralmente romances tendem a dar enfoque a um ou mais personagens principais, enquanto novelas tendem a narrar a vida de diversos personagens.

Então Dom Casmurro é ‘romance’ porque foca a vida de Bento, enquanto “O Cortiço“, que foca a vida dos personagens num cortiço está mais para novela — se bem que o termo novela se aplica mais a “Memórias de um Sargento de Milícias”, mas eu gosto de pensar que “O Cortiço” pode ser tomado como uma novela também. Mas, porque escolhi O Cortiço pra dar esse exemplo? Porque tanto Dom Casmurro como O Cortiço estão dentro da classificação ‘realismo/naturalismo’.

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Eu posso falar bem dessa classificação porque apesar de amar obras românticas, sou um louco por ‘realismo’. Então, obras realistas/naturalistas tendem a deixar de lado aquelas metáforas ‘desvairadas’ de obras românticas como ‘amar mais que a própria vida’, ‘por ela eu morro sem nenhum arrependimento’, etc.

Obras realistas focam mais ‘a vida como ela é’, sem aqueles rodeios melodramáticos que estamos acostumados — por causa das telenovelas.

Então meio que entendemos né?

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Um romance focado mais na vida de uma personagem — no caso o Bentinho — e realista, ou seja, uma obra sem ilusões ou saudades. Focada na realidade que é a vida do ser humano. Contudo só mais um detalhe: gosto de pensar que o fundador da Academia Brasileira de Letras era um ‘mestiço’, um homem negro. Hoje alguns historiadores tendem a pensar o mesmo.

Pois bem, lembrando que isso não é uma crítica e que só estou dando opiniões pessoal, olha lá! Enfim, Bento nos narra a história de sua vida. No começo ele explica o motivo do nome de seu livro e que mais tarde retornaria a escrever o que queria desde o começo.

Não vou dar muitos spoilers, mas temos em Dom Casmurro muito mais do que “Capitu traiu Bento com Escobar?”. Na verdade essa pergunta é a que de fato move discussões até hoje, mas o livro vai além dela. Coisas geniais e “maravilhosissímas” como o agregado José Dias, a própria mãe do Bentinho que é uma mulher ‘quase santa‘ e claro, a lindíssima Capitu com seus “olhos de cigana oblíqua e dissimulada“.

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“Romance de Crescimento”

Dom Casmurro é antes de tudo, porém, um romance ‘bibliográfico‘. Perpassa toda a vida do personagem e acaba causando empatia imediata com o leitor por causa disso. Por exemplo, quando éramos adolescentes e tivemos nosso primeiro beijo, como foi a decisão que era ‘nossa mesma’ e não de ‘nossos pais’, etc.

Esse tipo de obra é uma ‘obra clássica’ como a do mito da “Jornada do Herói aonde os personagens vão em busca de um sonho — shonen? — ou então de descoberta do ‘self’, ou “rito de passagem” — shoujo? Obras assim tendem a causar empatia com o leitor, e Machado foi genial ao usar o romance do tipo ‘crescimento’ para captar seus leitores.

Como isso não é uma crítica, vamos ao “Sentido da obra” e um “easter-egg”…

Dom CasmurroComo eu deixei meio por raso no começo, a coisa ao meu ver não fica na traição, ou no porquê a Capitu era uma na adolescência — forte e decidida — e depois fraca e pasma na idade adulta.

Ao meu ver, o sentido é: O livro é a visão de Bento do mundo. O que importa não é bem o que pensamos, mas o que o motivou a tomar suas decisões. É um livro de ‘percepção pessoal’ acima de tudo.

O “easter-egg” é que Machado sempre em algum momento, se coloca nos seus romances — assim gosto de pensar. Em alguma hora na fase adolescente de Bentinho, um menino mulatinho, um negrinho aparece vendendo bombons para ele e Capitu senão me engano. Eu arrisco dizer, que esse era o próprio Machado. Existem outras cenas assim nos outros livros dele…mas isso é outra história.

Então é isso. Se apressem e leiam essa obra-prima feita por um dos maiores escritos de nossa literatura. E aí? Você acha que estou errado? Capitu traiu mesmo Bento? Eu acho que sim…Ou será que…

Boa leitura!

Fonte:
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