Vamos à Resenha do filme Batman (1989), de Tim Burton. Com o genial Jack Nicholson como Coringa, Michael Keaton como Bruce e Kim Basinger como Vicki Vale. Espero que gostem de ler um pouco sobre este clássico!
Batman (1989) O Filme – Resenha: Um Elogio à Loucura
Finalmente volto às resenhas de cinema depois do texto sobre Edwards Mãos de Tesoura. Desta vez escolhi falar do clássico Filme Batman de 1989.
Mas primeiro, quero citar a obra que na minha opinião (pelas referências) mais influenciou longa. Se trata da HQ feita por Alan Moore, a clássica A Piada Mortal — siga o link para você ler a Critica desta HQ aqui mesmo no Afonte Geek.

Mas por que a Piada Mortal? Na realidade ambas as obras falam basicamente do mesmo tema (Um Elogio à Loucura), só que em argumentações diferentes. Neste texto vou tentar tratar bem do sentido do filme, e também de outras questões como Enredo e Direção, Roteiro e Atuações, Trilha Sonora e Conclusão com Sentido da História.
Mas antes… A Sinopse!
O filme começa com um homem e uma mulher, provavelmente da Mafia, assistindo o prefeito de Gotham trazendo um novo promotor público: Harvey Dent – prometendo que livraria a cidade do mafioso Carl Grissom, pelo menos a tempo do festival da Cidade. O problema é que o “cara” vendo tv é Jack Napier (Jack Nicholson) que além de ser o “braço direito” de Carl Grissom está “pegando a esposa boazuada” de seu chefe.
Enquanto isso, um tal de Alexander Knox está investigando as aparições de um “morcego gigante” que anda aterrorizando os bandidos menores (fala serio… em vez de investigar a Máfia ele quer saber de um morcego gigante!). É neste inteirim que aparece a linda e premiada fotógrafa Vicki Vale, interessada (na máfia?) no tal morcego gigante, claro.
Enredo e Direção (arte conceitual)
Antes que alguém fale “Ah mas esse filme do Batman é besta!”, a gente tem que entender qual foi a escolha do diretor ao trabalhar o morcegão. Inspirado talvez na própria Gotham (e na arte da Piada Mortal, com os desenhos do Coringa espalhados pelo filme), Tim Burton deve ter imaginado um lugar gótico, repleto de crimes e assassinatos, beirando à loucura.
Esta é basicamente a “Arte conceitual” do filme (e provavelmente de Batman o Retorno também) . Um lugar que propiciasse o aparecimento não apenas de corrupção humana, mas uma fantasia que favorecesse o “incomum”, o “fora do normal”.
A direção inteira privilegia a fantasia e a loucura (música, tons de cores do filme, ambientação) mesmo que a motivação inicial para o segundo momento do filme, seja simplesmente uma traição (nas palavras de Jack Nicholson: “Você me traiu por uma mulher?!”). Nada mais humano não é?
Então se a direção e a arte nos envolvem nesse lugar que favorecem o aparecimento de “morcegos gigantes que andam como zumbis” é claro que o roteiro e as atuações também.
Roteiro e Atuações
Coringa
Eu vou falar logo, Jack Nicholson é um gênio. Na realidade, pelo sentido do filme (que vou tratar logo, logo) essa não é uma história do Batman, mas sim de quem ou o quê representa o Coringa (ou um coringa) na vida humana. Então vemos falas pouco significantes na maioria dos personagens, com as cartadas e atuações excepcionais ficando para o Coringa e para seu fiel ajudante, o Bruce.
Coisas geniais como a fala do Jack já como Coringa, quando ele vê a foto da Vicki Vale (O acidente que ele cai no poço químico, é basicamente a mesma história da Piada Mortal, aonde o “Batman criou o Coringa”): “Jesus de Misericórdia, uma potranca como essa solta por ai pode levar um homem ao mau caminho!”.
E mesmo a fala que une os dois personagens centrais do filme (Batman como coadjuvante) e todo o enredo da historia: “Nunca dançou com o demônio sob a luz do luar?” – que era o que Jack sempre fala àqueles a quem vai matar; foi ele quem matou os pais do Bruce… e só não matou o pobre garoto por simples acaso.
Ou seja, o Jack (a maldade, a total psicopatia) criou o Batman por ele ter matado os pais de Bruce e deixado ele viver. E o mesmo para Batman ao não conseguiu impedir que ele caísse no poço químico.
Entenda aqui loucura como o máximo que um psicopata pode chegar, sempre consciente de seus atos. Tão cruel que Napier criou um símbolo para si: O Coringa.
Bruce
Enquanto isso, o Batman como “persona” do Bruce é sempre mudo e Vicki Vale que na realidade ganhou notoriedade por ter fotografado as Monstruosidades da guerra em Corto Maltese (guerra Fictícia da HQ Cavaleiro das Trevas, aonde o Superman “ajuda” os USA contra a URSS) só aparece mais como “trilha sonora”.
Temos um Batman sem falas, mas em compensação um Bruce que realmente atua junto de Nicholson. Quando ele decide contar à Vicki que é o Batman e ela não deixava ele falar, ele a empurra e diz: “Escute, você é uma garota formidável, eu gosto muito de você, mas por enquanto cale a boca!”. Cena que precedeu o encontro de Coringa e Bruce, aonde Bruce simplesmente “surtou” para que o Coringa saísse do apartamento da Kim.
Trilha Sonora
Na realidade a Kim ajudava a Trilha Sonora “Gritando feito uma maluca, totalmente histérica” (e com razão, porque de um lado um louco psicopata e do outro um maluco fantasiado de morcego).
A trilha traz o Prince e o Tema do Batman. Músicas e gritos de “mocinha de filme de terror” da Kim, para espelhar o que o “fora do normal” pode causar.
Sentido da História
Na HQ
Mas então, qual é o sentido da história? Como eu disse, em ambas (HQ e Filme) temos um forte elogio à loucura. Mas a HQ da Piada Mortalargumenta que não importa quão “são” nós sejamos, em algum momento caímos no abismo e revelamos nossos coringas.
Enquanto o Batman e o Gordon representam a bondade e força moral de que, não importa o mal que lhe chegue, se você é forte, não cederá – claro, Alan Moore propositalmente os coloca de forma “bobinha” porque o que ele queria era falar da loucura.
No Filme
Aqui esse elogio é diferente. Não tem haver com moral, com o não matar mesmo depois de ver sua filha/amiga ser estuprada e ficar paraplégica por causa de um psicopata. Mas sim, de que o mundo não é “certinho”. Nem tudo, nem coisa alguma é simplesmente “normal”, “comum”. Todos temos lapsos, pontos de fissura.
O ponto de fissura do Bruce é o Batman, como ele mesmo tentou falar à Vicki: “Sabe pessoas com dupla personalidade? Esse mundo não é tão normal”. Já o Coringa simplesmente se joga no caos deste mundo louco, porque nunca teve bondade. Nada lhe é caro a não ser risos, arte e assassinatos.
Conclusão
Para resumir: O Bruce fora da casinha é um “Vigilante fantasiado de morcego em busca de vingança, e de preencher o vazio da morte dos pais”. O Jack… bom, ele nunca esteve em casinha alguma, ele só fantasiou aquela psicopatia – ambos, como Gotham propiciava.
E você? Fora da casinha é o Batman ou o Coringa? O mundo na realidade é tão insano que um “3 oitão” abate um caça? Perguntas recobertas de fantasia, mas que são o que eu penso, Tim Burton nos questiona.
Esse filme do Batman é besta né? He, he…
Abraços!
ps: Ah sim… o Batman do Tim Burton “mata” o Coringa: na hora que ele tenta fugir de helicóptero, prendendo-o no alto da Catedral, e por isso ele cai – pura vingança. Bruce lembra (imagina, talvez?) que foi Jack quem matou seus pais.
ps²: A frase “Nunca dançou com o demônio sob a luz do luar?” me lembrou a clássica “Um demônio no Redemunho” do gênio Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas — clique para ver a resenha desta obra aqui no site.

Fonte: