Depois de falar um pouco sobre Dom Casmurro, já vos trago um texto retratando alguma coisinha sobre esses dois clássicos dentro do romantismo brasileiro. Obras que fizeram parte de várias gerações, provindas do grande José de Alencar: Senhora e Lucíola.
Senhora e Lucíola: Romances que marcaram Gerações – Indicação
Já que estou atacando de ‘crítico de romances brasileiros‘, e como tenho alguma leitura diante desses, venho fazer mais algumas considerações sobre duas obras que de certo modo, além de construir o imaginário popular — afinal de contas, Senhora é obrigatório no ensino médio — ajudou em alguma instância a delinear o que viria a ser os romances posteriores.
Como citei no texto sobre Dom Casmurro, há uma diferença entre novela e romance, além de realismo e romantismo. Nesse caso, ambos os romances tratados — ou seja, obras focadas mais em certos personagens — são de origem romântica, bênção e obra de José de Alencar. É bem comum dizer também que as mulheres de Alencar, ou seja, “Senhora”, “Luciola” e “Diva”, meio que ‘ajudaram’ a delinear o começo do realismo no Brasil.
Eu de cá penso que Senhora é um ótimo romance romântico, mas até o final ajuda nos dizer que José de Alencar continua, e muito, seguindo as vieses do romantismo. Realismo mesmo, ao meu ver, só com Machado de Assis.
Enfim, como esse texto não tem a pretensão de ser uma crítica, mas antes, uma motivação para você aí do outro lado ler os referidos romances, vamos tratar hoje de Lucíola e de Senhora. No caso também li Diva, mas dos três gosto muito mais de Lucíola, e como Senhora é Senhora, vá lá então. Lembrando que só vou dar uma opinião, então né?
Lucíola
Luciola é um romance narrado pelo personagem-narrador Paulo, que conta a sua história ao encontrar a sua doce cortesã — isso mesmo, ela era prostituta. De começo ele não notou muito que era o caso, mas como sabemos uma coisa assim né?
Não vou dar muitos detalhes, mas a linda Luciola no final se mostrou uma mulher maravilhosa. Posso dizer sem sombra de dúvidas, que seu final é um dos mais lindos que vi e que mereceu, a minha ‘relida’.
Sem dar muitas spoilers, destaco o apelo emocional que o personagem principal faz sobre seu amor, ou seja, sobre sua cortesã Luciola. Não pretendo contar o enredo do negócio todo, afinal uma sinopse com ‘rapaz se apaixona por cortesã de luxo‘ meio que já deve por si só, despertar a vontade de ler o negócio.
Lendo os textos sobre o romance eu não concordo muito com eles. De certo que a impressão que temos da Luciola, que é a mesma de Paulo, o ‘rapaz apaixonado’, é mesmo que ela é um anjo. Mas garanto que no fim essa impressão dele será validada. Recordo como hoje o sentimento que tive ao ler o final. Luciola foi um dos dramas românticos mais lindos que já pude ler.
Agora, Senhora.
Acho que todo mundo já teve que ler Senhora não é? De qualquer jeito, é um romance que perpassa por Aurélia — a menina pobre que fica rica por causa de uma herança — Fernando Seixas — rapaz esperto que depois casa com Aurélia porque ela ficou rica, afinal é como acertar na loteria, amar uma moça rica — e também o Lemos — tio, tutor da Aurélia riquinha e “vilão da história”.
De em comum com esse personagens temos o dinheiro. Uns recebem, outros querem se aproveitar, e de novo, alguém quer usar a grana para se vingar de alguém. Recordo que Lemos é pintado pelo autor com os pincéis mais ‘realistas’ possíveis, enquanto ora havia uma queda para a ‘vingança ressentida’ de Aurélia e o ‘aproveitador apaixonado arrependido’ que era Fernando.
Meio que sem spoilers, eu já contei boa parte da história. Não vou falar mais, mas vale dizer que gosto muito do Lemos, costumo gostar dos vilões, e que de fato não gostei do final como todo mundo aí. Mas convenhamos, era uma obra romântica o final tinha que ser romântico.
De identificável nas duas obras, está o clássico das histórias românticas: Primeiro encontro, depois separação, e por fim reunião com uma reconciliação ou um final ‘infeliz’. Esse é o roteiro mais comum de obras românticas e eu garanto que você vê todo dia isso na novela que você assiste na tv.
Rirando aquelas conversas que vemos em todo resumo sobre as duas obras — conversas de ‘denúncia social’ e esse tipo de coisa — coloco como destaque o cuidado que José de Alencar teve com as duas mulheres. Mesmo que de maneira ‘inocente’ e ‘imaginada’ há um caminho traçado para o perfil delas.
Ele se preocupa muito com suas personagens principais, dando motivações, decisões e conclusões. Acho que vemos pouco isso em ‘mulheres’ na maioria dos romances românticos.
Ambas tiveram que ser forte no decorrer da vida, decidir por si mesmas e motivadas por alguma coisa que as atingiu. Nisso ele foi muito bom, mesmo pecando, ao meu ver, aqui e ali com fantasias idílicas.
Sentido das Obras

De sentido da obra eu arrisco que em Lucíola temos redenção e amor completo, enquanto em Senhora temos decisão e ‘Amor de Perdição‘ se eu for brincar um pouco e citar Camilo Castelo Branco, cuja obra já li e fiz até um texto Aqui no Afontegeek.
Para terminar indico fortemente Lucíola, o final é realmente emocionante e ela é uma personagem de mulher forte, obstinada e cândida. De Senhora, se você for como eu que adora vilões, foque no Lemos, eu mesmo achei ele excepcional.
Então é isso…
Abraços e boa Leitura!